sexta-feira, 30 de abril de 2010

Compulsão

Foi necessário e preciso.


Fez-se sem honra nem brilho.


Faces sem nenhum sorriso.


No ato.


Preciso.

Preciso.

Preciso.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sábado, 17 de abril de 2010

Fábula da mágica mentira

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A energia que possibilitou a realização do ritual, retirou-a de uma dessas convulsões sociais que de tempos em tempos convergem em todos os planos, quando através do previsto pela configuração astral do Cometa Meteoro com as Linhas Abissais Anômalas, apresentou-se em local e momento corretos para absorvê-la de uma das maiores já vistas, que ceifou incontáveis vidas de toda e qualquer espécie jamais existente.
Nos parapeitos e sacadas das beiradas dos cantões de todos os universos, sacerdotes e altos-dignatários de variadas designações esotéricas reuniam-se com grupos seletos de pupilos, herdeiros e familiares exigindo atenta observação. Tantos e tão diferentes mestres; uma única recomendação: - Alá a merda que rola quando profanos se metem a desencadear eventos!
Juniki, o mais novo e promissor dos filhos de Bierklaus, Sumo-Sacerdote e líder supremo dos místicos do Horto Negro, torceu nervosamente a barra de sua toga cerimonial e encolheu-se quase imperceptivelmente ante a magnitude e o espectro das forças desencadeadas. Seu experiente e poderoso pai, tratou porém de tranqüiliza-lo: - Susse fry, a possibilidade de manipulação de tais energias é proporcional ao caráter lobisómico daquele que as invocar. Um afetado a vampírico com intenções claramente calculistas como este jamais teria a força de vontade necessária para dominar tamanha fúria. Ele será consumido pela própria ambição.
Mas ao invés de implodir e consumir o profano em seu centro, a enorme massa de radiação incandescente, como que impelida por sua vontade, expandiu-se em espirais sucessivas até assumir a forma daquilo que parecia em seu exterior uma estrela de sete pontas com os vértices perfeitamente alinhados com cada um dos portais de observação, levando em múltiplas realidades o astrônomo amador Ricky Padeiro a exclamar simultâneamente: - Um flambant!
Do interior porém, a situação era inversa. Os vértices é que formavam pontes invisíveis ligando a estrela e os portais, através dos quais irrompiam instantaneamente alcatéias desordenadas de incontroláveis chamas lobisomórficas, torrando os observadores nas sacadas e parapeitos dos confins dos cantões dos universos, os fracos na mesma hora, os fortes um segundo depois.
Descendo da cabine da estrela - que agora permaneceria ligada por pelo menos cinco eternidades, impedindo definitivamente através de exaustão por consumo qualquer tentativa de reexistência por parte dos habitantes dos portais - o profano foi recebido por uma multidão de aturdidos acólitos, que pela primeira vez testemunhavam uma bem sucedida prática de resistência ao tão afamado ritual de suicídio.
Através dos éons o inusitado de um tal feito geraria especulações sobre como um ser de características eminentemente vampíricas domara o cão, sendo que de cada vez que alguma lhe chegava ao conhecimento, o profano gorgolejava rios de cachoeiras; tanto celebrando a feliz coincidência triste que o despossuíra frente ao mundo a caminhar em quatro patas, quanto desdenhando da burrice analítica de seus estudiosos, que por medo ou preconceito, sempre se furtavam à aproximação que permitiria um entendimento detalhado sobre a natureza da besta, cuja insuspeitada consciência não necessitava para orientá-la em direção ao caminho desejado mais do que a força de vontade necessária para convencê-la da honestidade de seus propósitos. Ainda que mentirosos...

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E de cada vez que isso acontecia, a multidão de acólitos que sempre o cercava qual moscas rolando bosta, por sua vez limitava-se a exclamar entre sussuros: - Esse profano é doidão!


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves