O cachorro que teimava em pular o muro de casa para tentar embuchar minhas cadelas no cio lá em Ponta Grossa também existe em Arapoti.
Pode ser coisa de ficção cientifica ou apenas coincidência, mas o bicho passou por mim dia desses, me olhou nos olhos e tomou aquela postura canina de quem espera um chute, uma pedrada ou um duelo; pescoço virado, rabo teso e pernas prontas a explodir num frenesi de movimento.
Se ele dissesse: - Geraaaaaaaldo; eu provavelmente ficasse bem de cara, muito embora minha sopesada postura blasè evidentemente me impedisse de externar a algum transeunte fortuito ou curioso a surpresa que ia por minh’alma.
De fato, pequenos e eventuais contatos com o além mutcho-lôco não são exatamente uma novidade em minha jovem existência. Lembro muito bem da noite em que, após secar um galão de Cascola no meio do mato, ao nos darmos conta de que todos os três presentes eram do pródigo ano de 1978, três alvissareiros cavalos brancos surgiram, obrigando-nos a polidamente recusar seu convite à montaria por medo de abdução extra-dimensional ou ruptura pescocional, o que, no fim das contas, provavelmente daria no mesmo, ao menos aos olhos de todo o universo dos não presentes no local naquele exato momento.
Cada um com suas habilidades, karmas ou dons. Tenho um amigo que criou fama na relativamente obscura arte de pisar em bosta. Seus prodígios na área correram o mundo e em outra oportunidade terei muito prazer em relatá-los caso haja interesse do público. Outro, sabe-se lá por qual acaso do destino, é um verdadeiro imã para bêbados, vagabundos e desdentados em geral, venham estes para colorir ou acinzentar nossos dias.
Tal traço em muito se assemelha à minha notória afinidade com qualquer enxergador de visagens, esquisitofrênico ou epilético que porventura esteja nas redondezas. Vários dentre tais personagens, seja reconhecendo pelo cheiro ou pela essência, acabam por encontrar-me e tornarem-se meus amigos ou admiradores, no mais das vezes em virtude dos textos ou causos com que lhes brindo, pessoalmente ou via internet.
Você, que tem por hábito recorrer a meus escritos a fim de obter instrução ou entretenimento, procure já o vidente, pajé ou neurologista de sua confiança, devidamente munido de seu eletro-cárdio-encefalograma ou mapa astral magnético, pois o diagnóstico precoce contribui para a cura definitiva.
Caso a patologia se encontre em estado avançado e intervenências de espectros de animais falantes sejam uma constante, suspenda imediatamente o uso de solventes e benflogináceos, sob pena de o quadro tornar-se irreversível.
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves