sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Etimologia

E quem então nessa vida é que me há de convencer


que se o Trabuco é neto de um velho Trebuchet,


não seriam também, Ferpas e Felpas primos


e conforme seu caráter,


se mais áspero ou macio,


Ferpudos ou Felpudos


o apelido de seus filhos.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Poema no ôbus

O Projeto Poesia no Ônibus é uma das iniciativas surgidas através da gestão participativa e colocadas em prática no governo do ex-prefeito municipal Péricles de Holleben Mello em Ponta Grossa - PR.


Segundo a proposta original, era pra se chamar Poesia no Lombo e distribuir camisetas estampadas com poesias de artistas da região para a população princesina. Eu sei porque ainda tenho em algum lugar o rascunho da ata da reunião do grupo de literatura com o nome sugerido por mim mesmo.


Como os meios políticos regionais continuam tradicionalmente refratários a idéias mais arrojadas ou incomuns (ainda que só no nome), o projeto acabou sendo reformulado para se tornar o atual Poesia no Ônibus, em que, através de concurso municipal, algumas obras são anualmente selecionadas para serem expostas por alguns meses nos coletivos públicos da cidade.


A primeira vez que participei tive selecionada a poesia "Como eu amo você", que está a uns dois ou três posts abaixo, e no concurso desse ano selecionaram a "Poema Oculto", que reproduzo nesse post. É a terceira ou quarta vez que um texto meu será publicado em uma coletânea de artistas locais. Eu sei que isso não é motivo para vangloriar-me, nem é essa minha intenção.


Eu só queria convidar a quem puder pra piar quinta agora dia dez as quatro da tarde na garagem da VCG perto do Fórum comer um pão com xaxixo que o pessoal tá disponibilizando. Não tomem banho nem troquem de roupa a partir de hoje, que vai ter inclusive imprensa de fora cobrindo, diz que.


Link oficial. Valeu Tonhão por lembrar!


Poema Oculto


Ela é totalmente pura

e eu como o calor da neve.


Como a flor da margarida,

como a flor da Margarete.


Como a flor da própria vida,

como vida que derrete...


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Jargão café-com-leite

Talvez a palavra sem nexo

seja somente reflexo

da identidade perdida.


Da mentalidade caçada,

cansada,

emboscada,

abatida.


O eu,

lutando por sua unidade

na era sem fim das multitudes mundiais.


Talvez seja apenas engodo,

peão e engrenagem no jogo

de manter-se super

estruturas tão banais.


Talvez quiprocó de si mesmo,

o homem caminhando a esmo

resolveu de dar risada...


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Hora degradê

Vai então,

ser top model do próprio destino,

da verdade onipresente,

da impotência em revidar.


Viver suas rimas

tão cheias de prosa,

tão ricas,

tão infelizes.


Vai,

interpretar os tais sonhos escolhidos a dedo,

que falar por falar sem falar por si mesmo

é imensa ousadia pra quem nada diz.


Vai,

ao pregão dos leiloeiros do caminho que é sem volta,

já que o valor do lance também pouco lhe importa

quando a vã recompensa são embalos de sábado adeus.


A horta dos sonhos meigos é regada a palavras chulas

e exige bem mais trabalho que a indústria da eterna mesmice.


Então vai você, que eu fico por aqui mesmo,

sabedor que seu vinerlóser não passa de moeda de troca no câmbio da ideologia, analfabeticamente rendido ao mantra:

Muito karma nessa hora...


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Parabéns pra você

E vai passando cada vez mais rápido
e vai ficando mais e mais igual.

Ainda ontem era outro dia
agora hoje é um dia a mais.

E eu creio é claro que uma tal rotina
não seja nunca
nada,
jamais;

ou seja eterna
pra sempre,
fatal.

Talvez apenas o mais velho engano:
cérebro humano
corpo de metal.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Como eu amo você

Amo você como quem ama um carro.
Como quem ama fumar um cigarro.
Amo você por amor ao prazer.

Amo o prazer de andar de braço dado,
de ser somente eu a caminhar ao seu lado
e a inveja que causa esse nosso caminhar.

Amo sobretudo a calma e a certeza
de saber a quem pertencem
você e sua beleza,
amo a luxúria que existe em amar.

Amo o amor como aquele que amaria
a mais linda beldade
a quem aprouvesse um dia
tomar a liberdade de apenas deixar-se amar.

Amo você algo que casualmente,
por ter nos posto a vida
lado a lado simplesmente
tendo-me então imperado:
- Tu! Põe-te a amar!

Amo você como quem ama bocas
que por não ser nenhuma,
torna-se então em todas
Pois o que amo é o êxtase
que qualquer das bocas dá.

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Masculinidade

"Esse aqui, com cheiro de homem."

Descrição usual ao apresentar o próprio quarto, retângulo cúbico lotado de tênis e sapatos, cuecas, moletons, bermudas e camisetas suadas.

Especial desafeto era dedicado àqueles que, em nome da própria macheza, alegavam alergia a todo tipo de contato masculino, recusando-se a dormir em qualquer aposento que não o próprio.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

Link para a postagem original. Retardado. Mesmo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vestido para matar

Foi amassado, beijado, lambido, chupado e gozado. O silicone, vestido de mulher.



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves



Link pra postagem original, não precisa ser um gênio pra entender, né jacuzada?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alerta!


O cachorro que teimava em pular o muro de casa para tentar embuchar minhas cadelas no cio lá em Ponta Grossa também existe em Arapoti.


Pode ser coisa de ficção cientifica ou apenas coincidência, mas o bicho passou por mim dia desses, me olhou nos olhos e tomou aquela postura canina de quem espera um chute, uma pedrada ou um duelo; pescoço virado, rabo teso e pernas prontas a explodir num frenesi de movimento.


Se ele dissesse: - Geraaaaaaaldo; eu provavelmente ficasse bem de cara, muito embora minha sopesada postura blasè evidentemente me impedisse de externar a algum transeunte fortuito ou curioso a surpresa que ia por minh’alma.


De fato, pequenos e eventuais contatos com o além mutcho-lôco não são exatamente uma novidade em minha jovem existência. Lembro muito bem da noite em que, após secar um galão de Cascola no meio do mato, ao nos darmos conta de que todos os três presentes eram do pródigo ano de 1978, três alvissareiros cavalos brancos surgiram, obrigando-nos a polidamente recusar seu convite à montaria por medo de abdução extra-dimensional ou ruptura pescocional, o que, no fim das contas, provavelmente daria no mesmo, ao menos aos olhos de todo o universo dos não presentes no local naquele exato momento.


Cada um com suas habilidades, karmas ou dons. Tenho um amigo que criou fama na relativamente obscura arte de pisar em bosta. Seus prodígios na área correram o mundo e em outra oportunidade terei muito prazer em relatá-los caso haja interesse do público. Outro, sabe-se lá por qual acaso do destino, é um verdadeiro imã para bêbados, vagabundos e desdentados em geral, venham estes para colorir ou acinzentar nossos dias.


Tal traço em muito se assemelha à minha notória afinidade com qualquer enxergador de visagens, esquisitofrênico ou epilético que porventura esteja nas redondezas. Vários dentre tais personagens, seja reconhecendo pelo cheiro ou pela essência, acabam por encontrar-me e tornarem-se meus amigos ou admiradores, no mais das vezes em virtude dos textos ou causos com que lhes brindo, pessoalmente ou via internet.


Você, que tem por hábito recorrer a meus escritos a fim de obter instrução ou entretenimento, procure já o vidente, pajé ou neurologista de sua confiança, devidamente munido de seu eletro-cárdio-encefalograma ou mapa astral magnético, pois o diagnóstico precoce contribui para a cura definitiva.


Caso a patologia se encontre em estado avançado e intervenências de espectros de animais falantes sejam uma constante, suspenda imediatamente o uso de solventes e benflogináceos, sob pena de o quadro tornar-se irreversível.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sábado, 5 de setembro de 2009

Na velocidade da combustão eterna auto-movida em três tempos

Passado:

Após tanto tempo acreditando que não; nada; nunca; ninguém; jamais doeria, deu-se conta do profundo amortecimento em que se encontrava.


E decidiu abdicar por completo da sedução oriunda do horror, cessando de uma vez por todas seus flertes com a escuridão antes de seu lascivo chafurdar em podridão e decadência tornar-se em condição definitiva.



Presente:

Negando-se mutuamente, Plutarco e Mani abraçados afogam-se e são sepultados nas areias do deserto das eternas contradições.



Futuro:

É seu eu exilado que hoje se acerca de sua porta,

gordo como nunca;

cruel como nunca;

forte como nunca;

vingativo como nunca;

implacável em sua disposição em arrombá-la.


Na iminência do fim, o refúgio no único laivo de orgulho que perpassa mente e espírito:

- Meus vinte e sete mil setecentos e doze ainda intocados...



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Imperdoável


Meu desprezo pela vida
é meu desprezo por mim mesmo.

Qual Billy Cadela Lôca
ando armado e atiro a esmo.

Ontem mesmo acertei
– de frente –
um filho da puta.

E sorri ao ver seus dentes
atravessarem a nuca.

Meu desprezo pela norma
é meu desprezo por você.

Inquirir-me sobre a forma
é pedir pra se foder.

Ontem mesmo arregacei
– a mente –
de um fiadaputa.

Que chorou ao descobrir
que as obras lhe vêm da bunda.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Olhos de retina, deuses de cristal


Só mais um nome, sonoro e bonito

quem sabe sabe, penso e me visto,

e espetos e agulhas de gente insensível

que não liga pra você,

nem vodu,

nem cinderelas,

nem nada

ou ninguém.



Mas unhas têm dedos e dedos tem dentes

que limpam o rabo e mordem o cu.

E o que nada é peixe

e peixe com dedo

bate o cachimbo,

pequenino,

cachimbo de Belém.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Macbeth

Não podia deixar de postar no blog essa animação depois de encontrar por acaso no youtube. É de uma série de adaptações da obra de Shakespeare feita pela BBC, e na minha opinião, ficou excelente.







quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ensaio sobre a fodeza


Acordei e percebi que ainda estava dormindo, mas essa não foi a maior de minhas surpresas. O fato é que eu me encoxava enquanto dormia. Preocupado, resolvi ir ao médico, tentar tratar do problema antes que alguém achasse que era viadagem.


Examinando os papéis com o resultado de uma bateria de exames, ele olhou para mim com uma cara entre surpresa e divertida e disse:


- Ao que tudo indica, seu problema é de excesso de fodeza.


- Como? – perguntei, sinceramente confuso.


- Todo ser humano tem uma capacidade X de fazer coisas fodas, e ao limite específico de cada um nós denominamos fodeza. É uma área muito nova da ciência médica, a fodologia. Eu me orgulho em ser um dos pioneiros do estudo da fodeza no Brasil e um dos mais renomados fodólogos do mundo. O seu caso é clássico, você tem um limite muito alto de fodeza, uma grande capacidade de fazer coisas fodas.


- Hummmm! Mas isso não seria uma coisa boa? Essa minha capacidade de ser mais foda que o resto do povo?


- Olha, uma coisa foda não significa necessariamente uma coisa boa. Essa sua habilidade de se encoxar, por exemplo, é uma coisa muito foda, que pouca gente conseguiria fazer. Mas até que ponto ela lhe traz benefícios? De fato, você não é nem mesmo o mais fodão dos meus pacientes, eu já tratei de pessoas com um nível de fodeza quase três vezes mais alto que o seu. Para elas, essa sua auto-encoxação seria apenas o início, se é que você me entende...


- Então eu posso ir embora sossegado. Ninguém precisa saber que eu me encoxo durante o sono.


- Na verdade não é tão simples assim. Eu deixei para lhe explicar por último, mas a sua principal "característica" não é sua fodeza, e sim sua resistência sobre-humana à fiascagem. Eu nunca tomei conhecimento de nada parecido, mas basta você entender que uma pessoa comum morreria fulminada como que por um raio se a taxa de fiascos em seu sangue chegasse a um décimo da que os exames indicam como a média para você. Na verdade eu acredito que você se encontra em um estágio em que mais do que suportar, seu organismo necessita de uma elevada taxa de fiasco na veia. Você é um viciado em fiasco, um fiascólatra. Eu recomendo que você procure o mais rápido possível o fiascólogo cujo endereço estou lhe repassando, bem como o F.A., os Fiascólatras Anônimos.


Despedi-me polidamente e dali mesmo me botei a procurar pelo consultório do fiascólogo recomendado, num edifício caro bem no centro da cidade. No meio do caminho, em uma praça muito movimentada, não resisti e parei para me encoxar em público. Logo uma pequena multidão de curiosos se formou ao meu redor, alguns assobiando, outros me atirando moedas. Foi nessa hora que ouvi alguém falar em viadagem. Na mesma hora, sem interromper minha ação, olhos inflamados e face congestionada, passei a gritar para a multidão só fazia avolumar:


- Viadagem nada! FO-DE-ZA!!!!



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves



sábado, 15 de agosto de 2009

Como diz-se

Ao contrário de tantos outros, estava feliz tanto em sua condição de tijolo quanto em sua posição junto à base da grande pilha desordenada que era o único mundo que já conhecera.



Não aspirava um dia tornar-se muro ou edifício, nem nada que implicasse em abandonar sua tão prezada individualidade, de modo que não perdia seu tempo em idílios ou planos sobre como galgar ao topo, de onde se afirmava ser mais fácil a transcendência.



Quando sopraram os ventos da revolução, virando do avesso as certezas e trocando tudo de lugar; enquanto alguns dedicaram-se a exaltar a glória das argamassas e outros procuravam explicações sócio-físio-científicas condizentes com os próprios conceitos; enquanto a grande maioria aproveitava para demonstrar a força de sua fé no Homem, o ser todo poderoso que criara o universo a partir do barro e do fogo – rogando-lhe das formas mais ardorosas que protegesse a si e aos seus; foi que desapareceu.



Em meio a tamanho caos, ninguém reparou no destino de tão insignificante figura. Diz-se que partiu-se todo em nome do fim que lhe foi reservado, remoendo-se de tal forma, que cada um de seus grãos, de tão refinados, hoje pulsa em diferentes pontos do centro da essência de tudo que existe.



Diz-se que virou ponte, e que de suas lágrimas é que surgiu o rio por sobre o qual eternamente chora, sozinho, no mesmo lugar.




Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sábado, 8 de agosto de 2009

Noite, velha conhecida

A noite
em sua essência
não me reserva surpresas.



Sexo
drogas pesadas
atos de violência.



A noite é desesperança
que tapa com mãos de velha
os meus olhos de criança.



À noite
- é o que espero -
me embalará em seu seio

me levará para a cama
e me enxergando tão feio
há de mentir que me ama...



Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves




terça-feira, 14 de julho de 2009

S/A

Durante o extenso período que durou a fase pesada de seu vício, alimentou-se exclusivamente de internéctar, sempre jurando poder sentir a virtual desintegração de suas células cerebrais.

A rápida recuperação que seguiu-se à sua brutal desconexão deu-se em função de variada gama de cultura tradicional. Era preciso afogar-se em velhas paixões para desintoxicar-se das novas dependências.

Teve então seus dias de ronin, o xadrez ameaçador pesando sempre às costas, lembrança de que as conseqüências da busca desesperada pelo aprimoramento da técnica nunca se restringem a um simples “morrer tenteando”.

Já de há muito que todos seus dias tornaram-se em dias de Ivan Denissovitch, o couro endurecendo a cal, cimento e cabo de enxada, na vã tentativa de minorar seus débitos para com a sociedade.

Ponta-Grossense Distribuidora de Bebidas S/A.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poema em verso frouxo

Dos trôços empedrados que deixaste
solitos, por detrás dessas macegas,
receio que sequer te apercebeste
o tanto que rasgaram-te as pregas.

Jurando-te total fidelidade
logo ao descabaçar-te em tenra infância
jurei afiançar-te só verdade
a despeito de qual a circunstância.

Portanto ante o amor que me domina
não há como negar que ora sinto
mais largas que as paredes da vagina
frouxas pregas, a envolver-me o pinto.





Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves




Esse é um texto antigo, porra! E essa frase é uma merda dum link pra postagem original, caralho!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Convidado: Marquinho Hip-Hop

Meu amigo Marquinho normalmente escreve textos altamente reflexivos aos quais eu sempre parmito: "Põe um cabrito estripado, ou um monstro de dois cu aí pra dar emoção!" e ele sempre ignora. O desse post foi uma exceção, da qual tomei conhecimento no boteco e não tive o que replicar, apenas pedi permissão pra colocar no blog. Assim sendo, vai aí a treta, que nem título tem.


Costumava acreditar em anjos; mas eles o convenceram da própria inexistência.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Demonólogo totalitarizante

Era com o matraquear agourento das curucacas que despertava a cada manhã, imediatamente consciente da própria maldade e do poder de sua magia. Um mal necessário, a única força capaz de conceder-lhe a tão almejada imortalidade.

Corpo seco nutrido pelo ódio e conservado em desespero qual espécime preservado em formol, há muito que se distanciara da lógica ou pulsões humanas, sendo portanto mais uma intuição do que uma dedução o que lhe fez ver que algo ia mal, que o desgaste da conservação da própria existência superava já a longevidade gerada pelos sacrifícios e rituais, afetando a memória que habitava a carcaça imperecível.

Ciente da concordância de toda a infinita malha que compunha seu “self”, acusou seu aceite à negociação há tanto protelada, atravessando logo em seguida os portões do inferno. Resquícios da agonia decorrente do pequeno acerto de contas que aí então teve lugar podem ainda ser percebidos, quase como hoje se percebem as convulsões e estertores do nascimento ou morte de massas estelares incomensuravelmente distantes.

Assim foi que, em nome da consciência plena que caracteriza as formas superiores de vida, entregou-se uma vez mais à única força existente capaz de preservá-la na integralidade exigida pela multiplicidade de suas formas, purgando através da dor tudo que pudesse constituir-se em empecilho à continuidade de seu existir.

Ao final do processo, infinitas partículas de si nadaram seu nado sincronizado em estreitos fachos de luz que irromperam através de todas as eras, épocas, espaços, tempos, planos, dimensões e universos, felizes por sequer saberem que nunca mais se reconheceriam ou poderiam reconhecer, como, aliás, ainda não se reconhecem...

Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

domingo, 12 de abril de 2009

Meias, verdades

Uma das grandes verdades do universo como o conhecemos é que o tempo passa. Outra, é que o mundo gira. Física ou literariamente falando, as implicações e conseqüências de cada um desses conceitos, isoladamente, já são suficientes para sustentar uma infinidade de teses e concepções sobre a realidade.
Quando unidos então, quem pode sequer imaginar quais, dentre as infinitas variáveis daí surgidas, será aquela que efetivamente ditará o destino de um ser humano? Em um dado momento, lá estava eu, uns nove ou dez anos de idade, deitando ao solo num acesso de fúria o colega de classe atrevido que me impedia com suas micagens a visão dos “problemas” de matemática deixados no quadro pela professora que momentaneamente se ausentara.
Mas eis que o tempo passa e, numa girada de mundo, o mesmo menino que outrora lançara mão da violência para resolver seus “problemas”, torna-se um adolescente pacífico, quase búdico em sua firme resolução de evitar conflitos físicos. Mesmo que toda a matemática do mundo se exploda. Alguma moral cristã negligentemente inculcada em um jovem e indefeso subconsciente durante as aulas de catequese nas masmorras da paróquia local; além de posteriores entreveros a imprimir diversas solas de Nikes e Adidas tanto em minha blusa, quanto em minha alma; encarregaram-se de operar tão drástica transformação de caráter.
Outros efeitos são mais prosaicos, caso se admitam variações quanto ao grau de importância das coisas em um mundo onde tudo é carbono e vácuo. Àquele que ontem era ridicularizado por comer em dois pratos – a carne separada dos demais alimentos – bastou um deslocamento de alguns quilômetros para o norte para encontrar-se em uma localidade onde o cúmulo da chiqueza reside neste singelo comportamento há tanto tempo cultivado.
Mas como seria impossível sentir as alterações sem a existência das permanências, alguns olhares de reprovação certamente poderão ser percebidos quando de sua ida até a mesa vizinha em busca das batatas fritas remanescentes da refeição de um outro cliente.
Nada que algumas notas de dinheiro legítimo, um certificado de boa índole reconhecido pelo MEC e/ou uma carteirinha de perturbado com as mensalidades em dia não possam resolver satisfatoriamente.
Distrações, enquanto não nos damos conta de que o que o futuro nos reserva é nosso próprio passado.
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O inferno é a estupidez

Então era assim: andava por ruas secundárias de bairros de baixo padrão para evitar sentir os olhares de tantos juízes às suas costas.
Essa gente gorda que tem por costume comprar uma nova caminhonete para combinar com cada ida ao campo não era problema. A cidade é como essas piranhas pervertidas que tanto mais se entregam quanto mais se lhe metem os pés, e, nesse sentido, tinha gastado as solas em lugares simplesmente inacessíveis a seus consolos de borracha.

Chato mesmo eram os ex-conhecidos, que perguntavam “e aí?” como quem diz “quando vai ser?”. Por um motivo ou outro, embora ainda não conseguissem interpretar sequer o que ia pelas linhas, pareciam acreditar haverem-se tornado algo de melhor ou mais importante por terem encontrado novos mestres para quem tocar o realejo a troco de dinheiro para comprar contas à prestação.

Mas... Se ainda estavam vivas na memória suas expressões de perplexa incredulidade ante esquimós, tomates enquanto frutas, cerâmica para motores, heterogeneidade do passado, deus como tríade e toda uma miríade de conceitos tão estupidamente simples a ponto de serem encontrados em qualquer livro santo ou gibi, não seria fato que qualquer conquista de sua parte poderia ser encarada como amplamente suspeita?

Na verdade, ele sabia. Bastava uma olhada por detrás dos edifícios, onde vastas extensões de mato se desdobravam por entre as zonas residenciais para convencer-se da inutilidade de delongar-se em explicações sobre o porquê de mais valer um clichê de Schiller na mente do que dois de Sartre na mídia...
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Parábola de sol e trevas

Já há algum tempo que eu não saía pela manhã, ou sequer acordava antes do meio dia. Pelo menos não com essa freqüência. Mas o ritmo e as imposições sociais modernas são abominações tais, que por vezes renunciamos a nossos princípios e ao que nos é natural, em nome de posições que nos possam garantir sobrevivência e conseqüente esperança de perpetuação da espécie.

O que estou querendo dizer é que arranjei um emprego, e que a sensação de acordar cedo e enxergar o sol fustigante e opressor lá em cima é deveras estranha, seja pela falta de hábito e pelo ambiente desconhecido em que me encontro, seja por minha reconhecida animosidade quanto a astros, reis e congêneres.
E embora a culpa não seja da estrela, e sim da humanidade que por milênios carregou de simbolismo estúpido a sua figura, em geral deixo que sobre aquela recaiam meus impropérios, uma vez que tanto faz dirigir-se a um ou outro objeto inanimado.
Afinal de contas, há figura mais arrogante e presunçosa que a do sol, sentado nos cimos do trono celeste com sua bunda dourada, fustigando nossos lombos dia após dia com seus raios, os quais têm a indubitável função de nos relembrar constantemente que é a sua divina dádiva que nos permite existir enquanto seres vivos produtores de merda e mijo?
E antes que me acusem de suposta heresia, tentando esfregar em minha cara uma moralidade que nada me significa e a qual abandonei há muito, relembro a eventuais detratores que não sou eu quem se utiliza da superposição de meu ego sobre a natureza para justificar uma situação de confortável injustiça largamente reconhecida e convenientemente sustentada através de mitos e representações hipócritas e tendenciosos. Ao menos não em larga escala...
Chegará o tempo em que conjunções propícias permitirão que das mais abissais profundezas dos recônditos onde reina o fogo preto, surja a botina que bicudeará a simbólica bunda do simbólico trono, bicudeando por extensão as bundas de todos os seus seguidores. E minha será a botina, e minhas serão honra e glória.
E atravessaremos a noite eterna em diversões frias porém não frívolas, sem nos preocuparmos em dormir ou acordar.
Posto que sou um cristão e como tal me comunico por parábolas.
Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves